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A tristeza que não sai de mim, me faz sorrir.

Como lidar com o racismo?


Eu me pergunto isso incansável vezes ao dia.


Optei por falar sobre racismo para compreender e enfrentar o racismo diário que vivencio e testemunho diariamente, entretanto mesmo que não sejamos diretamente ativos no ativismo escrito, virtual, e/ou presencial. Negros estão sempre resistindo, vivemos numa sociedade que traz em si as marcas de quase 400 anos escravizando pessoas negras, as consequências desse processo são enormes, se criaram esteriótipos que recaem sobre nós assim que a sociedade nos entende como sendo negro. Nós mulheres negras, dentro de muitos desses, sofremos a imposição de sermos fortes.


Eu sinto extremamente estafada e frequentemente choro escondido, após o choro e crises de ansiedade, me sinto culpada por estar cedendo as lágrimas e a tristeza, aquela vontade de querer ser fraca, mas não poder é constante e inclusive dolorosa. O prior não é ter medo do que já aconteceu, é saber que não podemos nem chorar por isso. É guardar todas as magoas e deixar elas irem crescendo e as vezes dominando a gente, porque o medo de falar e expor é enorme.


É extremamente cansativo e violento, lembrar a todo o momento todos os males que estamos expostos enquanto negros e/ou mulheres, podemos morrer por um tiro, ser presos, ter alguma doença por conta das condições de vulnerabilidade social e territorial, podemos morrer por não termos acesso a abortos seguros, nas mãos de parceiros que nos violentam, agridem e matam. Enfim, não vivemos de forma digna e saudável, por isso não me surpreende que estejamos à maioria doente psicologicamente.


Depressão esse é o nome da doença psiquiátrica, crônica e recorrente, que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). E tem como característica marcante uma tristeza recorrente.


Usando uma expressão do livro “Meus Desacontecimentos” de Eliane Brum, acabei me acostumando a ser uma tímida bem exibida, dessa forma consigo falar sobre racismo e machismo, que me atingem diariamente por textos, vídeos, posts, etc.


Porém existem dores na minha alma que me fazem querer chorar e ficar só. E sobre isso, é bem mais complexo falar.


Sinto-me fadigada, desamparada e com medo até de sair de casa e encarar o mundo, parece que fora da minha zona de proteção não há um dia sem sufoco, perturbação, dor e racismo, e esse no caso, quanto mais consciente nos tornamos, paralelamente percebemos o quão é constante e devastador são as violências que presenciamos ou sofremos. Temo até compartilhar com outros o que me causa tanta tristeza e ninguém ser capaz de compreender, afinal muitos tratam depressão como “frescura” e racismo como algo que se você for “superior” nos estudos, no trabalho, etc, será vencedor, além de absurdo é um discurso meritocrático violento.


Se fosse feito um estudo mais aprofundado focando no recorte racial, seria nítido que muitos negros sofrem do mesmo mal devido às situações racistas que passamos ao longo das nossas vidas. Um artigo americano (link abaixo) divulgado em agosto de 2014 na publicação de ciência Addictive Behaviors, indica que dos 4,5 mil negros estudados, 83% afirmaram já ter passado por alguma forma de discriminação, contudo nos 50% que disseram sofrer todas as formas de racismo analisadas e nos 14,7% que afirmaram sempre passar por discriminação, se percebeu um comportamento parecido com quem perde um ente querido: uso de drogas, alcoolismo e depressão.


Nós negros, nos nascemos negros, mas nos tornamos Negros. E infelizmente ao contrário do que dizem, isso é extremamente devastador para a maioria, pois passamos a indentificar de onde vem a dor.


Aquela dor que não está só quando te negam esse direito de ser o que é, amenizando sua origem nos denominando mulatinhos ou moreninhos, a dor não está só quando no colégio ironizam seu crespo, a dor não está só no racismo na universidade, quando você olha para o lado e não vê nenhum como você, ou quando sabe que tem um bom currículo, mas não te contratam por causa da “aparência”, a dor não está só em ser sempre “confundida” com um criminoso, a dor não está só quando o segurança te segue em ambientes, à dor não está só em ver sua mãe negra pobre passando necessidades pra criar os filhos, a dor não está só em ser tratada como a mulher para diversão e nunca para o amor.


A dor está em tudo. É assim que me sinto, em determinados dias eu praticamente sobrevivo e em outros eu realmente consigo viver. Eu preciso me curar. Precisamos nos curar, a auto cura, a ajuda dos semelhantes e principalmente, o auxilio e apoio de profissionais que entendam o quão devastador é o racismo para a população negra no campo psicológico. Não estamos falando só de depressão, é para além disso a ansiedade, angustia, falta de confiança em si, autoboicote. Estamos falando de dores do passado, presente e a dificuldade de saber lidar bem com o que virá. Estamos falando de uma população toda marginalizada, perseguida e cansada.


Precisamos de ajuda e é urgente.



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