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A Saúde Mental da População Negra e o Mercado

A conjuntura socioeconômica no Brasil claramente se separa em raça e gênero; segundo o IPEA, em 2013 a média salarial de um homem branco era 1.270,00 contra 645,00 de uma mulher negra.

Esses dados implicam diretamente no quesito de classe, onde a população negra é majoritariamente periférica; segundo o IBGE, em 2010 metade da população brasileira vivia com até R$ 375 por mês, valor inferior ao salário mínimo (na época R$ 510). Das 16,2 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema (cerca de 8,5% da população), com renda igual ou menor a R$ 70 por mês, 70,8% são negras.

Esses dados revelam que o problema de classes no Brasil tem cor e é negra, e isso reflete na realidade desta população, que diante destes graves problemas socioeconômicos, é impedida de progredir socialmente e de se enquadrar no padrão da falsa meritocracia, que é cotidianamente impulsionada pela sociedade, através do mito de que quanto mais trabalhamos, mais dinheiro conseguimos. Mito este, que pode ser facilmente contestado, quando constatamos que a população mais pobre, é a que mais trabalha e é a que mais se sujeita a cargos de trabalho cujas oportunidades de crescimento tanto intelectual quanto financeiro são praticamente nulas (empregadas domesticas é um forte exemplo disto). E isso consequentemente, gera um abalo psicológico, dado pelas baixas perspectivas de crescimento pessoal.

Além das dificuldades econômicas enfrentadas pela população negra, temos em nós, o estereótipo de pessoas que suportam muito facilmente os trabalhos braçais, uma imagem de animalização historicamente incrustrada na população negra, marcas trazidas pela escravidão que apesar de acabada, deixa suas marcas de violência como características bem atuais. Colocados em cargos braçais e de baixa utilização intelectual, somos subjetivamente estereotipados como sujeitos profissionais subalternos em relação a hierarquias nas empresas, fato que ignora nosso nível intelectual e acadêmico seja ele qual for.

Não existem dados ou pesquisas que se atenham a questões que dizem respeito à saúde mental da população negra do país, isto revela uma grave desatenção do estado para o assunto. Entretanto, diante dessas problemáticas apresentadas, não há menor duvida de que estas geram na população negra, sentimentos de inferiorização social, inferiorização esta, que abala a saúde mental desta população e é gerada pelos aspectos estruturais que o racismo, o machismo, a falta de oportunidades, a falta de lazer e falta de olhos voltados para a população periférica proporcionam.


“Os cidadãos negros se encontram em um contexto extremamente hostil, onde a permanência exorbitante da discriminação racial torna muito difícil enxergar-se de maneira positiva. Por isso é tão complicado para as mulheres e homens negros construírem e manterem um nível de autoestima saudável. Além de prejudicar severamente a autoimagem de seus alvos – ou seja, a percepção de si mesmo como indivíduo com valor e relevância social -, o racismo dificulta o acesso a atividades e papéis sociais considerados importantes. Empregos e profissões de qualidade, ou mesmo moradias ou locais para o consumo são comumente barrados para as pessoas negras, gerando um efeito "bola-de- neve”: como são marginalizados pela sociedade e não são incluídos naquilo que a cultura julga importante, muitas dificuldades emocionais e psicológicas aparecem; afinal, pertencer a uma comunidade, ser bem visto dentro dela e manter laços sociais de cooperação são fatores indispensáveis para o bem estar do ser humano.” - Jarid Arraes


A falta de oportunidades de crescimento social, junto com os demais aspectos, revela uma faceta histórica do racismo que consiste em massacrar os sonhos e metas de mais da metade da população do país, colocando-nos como meros coadjuvantes da nossa própria história, nos sujeitando a cargos de limpeza e de portaria, onde não há nenhum demérito, mas não há também, quaisquer perspectivas de crescimento e engrandecimento pessoal, bem como nos impede de criar perspectivas de sermos muito mais e de merecermos termos mais do que aquilo que já temos.

É preciso que se abram os olhos para os graves problemas de trato mental que a população negra e periférica enfrentam graças ao racismo e ao preconceito de classe. É preciso que seja debatido e desmascarado que a falta de oportunidades, a desigualdade social geram estruturalmente; o desemprego, a baixa autoestima, os baixos investimentos e o desiquilíbrio familiar e emocional na população negra e pobre.

É preciso questionar o papel do estado na disponibilidade de qualidade educacional básica, média e superior gratuitas; na disponibilidade de oportunidades igualitárias no que diz respeito a gênero e raça no mercado de trabalho e principalmente, no que diz respeito a qualidade de vida psicológica da população periférica do país.




Fontes:

http://www.censo2010.ibge.gov.br/

http://www.ipea.gov.br/retrato/indicadores_pobreza_distribuicao_desigualdade_renda.html

http://blogueirasnegras.org/2013/12/19/saude-mental- populacao-negra/




Gleide Fraga é negra, do subúrbio da capital baiana, tem 24 anos, é graduada em Recursos Humanos, estudante de Serviço Social, feminista e marxista.


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